O Apagão Ibérico e o Seu Impacto em Portugal: Um Alerta para a Resiliência Energética Nacional
No dia 28 de abril, a Península Ibérica foi palco de um dos episódios mais relevantes do setor energético europeu nos últimos anos. Um apagão de grandes proporções teve origem em território espanhol e afetou também Portugal continental, gerando uma série de reações no meio político, empresarial e regulatório. Apesar da curta duração da falha, as consequências foram suficientemente relevantes para reacender discussões sobre segurança energética, interdependência das redes e proteção contra ameaças externas.
Um Evento com Origem em Espanha e Repercussão em Portugal
Segundo as autoridades espanholas, o corte de energia teve início após três falhas no sistema de geração de eletricidade em Granada, Badajoz e Sevilha. A ministra espanhola da Transição Ecológica, Sara Aagesen, revelou ainda que, momentos antes do colapso, ocorreram duas oscilações de potência e frequência entre o sistema elétrico ibérico e o continente europeu.
Em Portugal, a REN – Redes Energéticas Nacionais confirmou que o país registou distúrbios relacionados com as flutuações na rede, refletindo a elevada interligação entre os sistemas elétricos ibérico e europeu. A falha afetou várias zonas do território continental, com impacto momentâneo no fornecimento de energia, nomeadamente em centros urbanos e zonas industriais.
Impacto nos Setores Estratégicos
Apesar da rápida estabilização, o apagão teve efeitos imediatos sobre setores que dependem de fornecimento contínuo de energia. Hospitais, centros de dados, operadores logísticos e instituições financeiras ativaram os seus planos de contingência. O setor empresarial demonstrou capacidade de resposta, mas ficou evidente a necessidade de rever os protocolos de risco e reforçar a infraestrutura de backup.
Grandes grupos económicos portugueses, sobretudo nos setores da banca, saúde e retalho, reportaram que os sistemas redundantes funcionaram conforme previsto. Ainda assim, a maioria admite que um apagão de maior duração ou natureza diferente, como um ataque informático, teria consequências consideravelmente mais graves.
Segurança Digital e Interdependência Energética
As primeiras análises feitas pelo governo espanhol e pela empresa Red Eléctrica excluem, para já, a hipótese de um ciberataque, embora a justiça espanhola mantenha aberta essa linha de investigação. Em Portugal, especialistas em cibersegurança alertam que o crescente grau de digitalização das infraestruturas energéticas exige reforço nas defesas cibernéticas, sob pena de deixar o país exposto a vulnerabilidades externas.
A natureza interconectada da rede elétrica europeia, embora essencial para a eficiência energética, representa também um risco: falhas localizadas podem alastrar rapidamente além-fronteiras, como ficou demonstrado neste episódio.
O Papel do Estado e das Entidades Reguladoras
A Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), em coordenação com a REN, acompanha os desenvolvimentos da investigação espanhola. A Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (CNMC), em Espanha, abriu um inquérito próprio, enquanto o governo português optou por aguardar os relatórios técnicos antes de tomar qualquer posição pública.

É consensual entre os reguladores que o apagão de 28 de abril não se tratou apenas de uma falha técnica, mas sim de um sinal de que o modelo atual de gestão de redes elétricas precisa ser reavaliado à luz dos novos desafios: transição energética, descentralização da produção e ameaças digitais.
Uma Nova Prioridade Estratégica
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que o governo irá ao “fundo da questão”, analisando os mais de 750 milhões de dados recolhidos para apurar responsabilidades e tomar medidas preventivas. A mesma urgência deverá orientar a postura das autoridades portuguesas.
Portugal está num momento crítico da sua estratégia energética. A aposta em energias renováveis, redes inteligentes e armazenamento de energia exige uma infraestrutura resiliente e preparada para lidar com perturbações internas e externas.

O apagão de 28 de abril foi mais do que um evento técnico. Foi um alerta. Portugal, como parte de um sistema europeu integrado, deve estar pronto para responder não apenas a falhas pontuais, mas também a cenários de disrupção prolongada, seja por causas naturais, técnicas ou cibernéticas. O futuro da segurança energética nacional dependerá da capacidade de antecipação, investimento e resposta coordenada entre os setores público e privado.