Centro-direita vence eleições em Portugal, mas governabilidade ainda é incerta
Neste domingo, 18 de maio, a coligação de centro-direita Alternativa Democrática (AD), liderada pelo atual primeiro-ministro Luís Montenegro, saiu vitoriosa nas eleições legislativas portuguesas com 32,7% dos votos. O bloco, formado pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Centro Democrático Social (CDS), garantiu 89 cadeiras no Parlamento — número expressivo, mas ainda distante da maioria absoluta exigida para governar sem alianças.

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Apesar do resultado positivo, Montenegro enfrentará o desafio de formar uma base sólida para governar num sistema parlamentarista fragmentado. As negociações com outras forças políticas tornam-se inevitáveis, já que a AD não possui, sozinha, os 116 assentos necessários para aprovar leis e sustentar o Executivo.
A ascensão da direita radical e o reposicionamento do PS
O segundo lugar foi disputado voto a voto entre o tradicional Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, e o Chega (CH), sigla da direita radical liderada por André Ventura. Ambos conquistaram 58 deputados, mas os socialistas receberam uma leve vantagem percentual (23,4%) sobre o Chega (22,6%).
O desempenho do Chega representa uma continuidade de sua escalada parlamentar. O partido, que tinha apenas 12 deputados em 2019, quase quadruplicou sua presença no Parlamento desde então. No entanto, Montenegro já afirmou anteriormente que não negociará com o Chega, dificultando ainda mais a construção de uma maioria governativa.
Segurança, imigração e o reposicionamento temático da direita moderada

Comemoração na sede do Partido Social Democrata (PSD), do primeiro-ministro Luís Montenegro, que integra a coalizão Alternativa Democrática
Um dos eixos centrais da campanha da AD foi o reforço da segurança pública, mesmo com Portugal figurando entre os dez países mais seguros do mundo, segundo o Global Peace Index. A retórica de endurecimento foi intensificada após ações controversas, como a operação policial no bairro de Martim Moniz, em Lisboa, onde dezenas de imigrantes asiáticos foram abordados por um aparato policial de grande escala. O episódio gerou críticas de parte da oposição, que classificou a medida como excessiva e discriminatória.
Durante a campanha, o governo também anunciou a expulsão de 18 mil imigrantes — incluindo 449 brasileiros — sob a justificativa de que estes não atendiam aos critérios legais de permanência no país. A medida ocorre paralelamente a um processo de regularização que soma mais de 110 mil pedidos, a maioria ainda sob avaliação.
Para o cientista político Hugo Ferrinho, a estratégia do governo é clara: absorver parte da agenda temática do Chega, como forma de esvaziar sua narrativa e atrair o eleitorado mais radical para uma frente de centro-direita mais moderada. “É o que chamamos em ciência política de acomodação programática. Ao apropriar-se dos temas mais sensíveis da direita radical, a AD tenta reduzir o apelo eleitoral do Chega”, explica Ferrinho.

Foto – Partidários do Chega comemoram resultado na eleição portuguesa
Cenário pós-eleitoral: articulações e incertezas
O Parlamento português saiu das urnas mais fragmentado e polarizado. A vitória da Alternativa Democrática foi significativa, mas insuficiente para garantir estabilidade imediata. Com o Chega excluído de possíveis pactos, a viabilidade de governabilidade dependerá da habilidade política de Montenegro em construir pontes com outras legendas — e, sobretudo, de equilibrar a pressão das ruas com os desafios institucionais.
O próximo capítulo da política portuguesa será, mais uma vez, definido pela arte da negociação. E o tempo, como sempre, será um fator determinante.